Na Paróquia Bom Jesus da Penha, no Rio de Janeiro, o Dia de Finados ganhou um tom de súplica por paz e proteção. Fiéis se reuniram para orar por seus entes queridos e pelas vítimas da recente e impactante Operação Contenção, que deixou um saldo de 121 mortos em favelas próximas. A ação policial, ocorrida na última terça-feira, é considerada a maior e mais letal já realizada na cidade.
O padre Marcos Vinícius Aleixo, responsável pela celebração, expressou a solidariedade da igreja para com as famílias enlutadas. “Todos que vêm, sejam mães, familiares, amigos, nesse momento de dor, nós temos acolhido, rezado e intercedido por essas pessoas”, afirmou.
No entanto, o clima de medo instaurado na comunidade é palpável. Segundo o padre Marcos, a frequência nas missas diminuiu drasticamente, refletindo a insegurança que assola o bairro. “A insegurança reina no bairro por conta disso. Muitas pessoas ficam com medo de sair de casa, com medo de vir até a missa”, relatou.
A proximidade da igreja com a Praça São Lucas, local onde corpos foram encontrados após a operação, agrava a sensação de vulnerabilidade. A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro informou que, das 121 vítimas, 4 eram policiais e 117 civis. A operação resultou no cumprimento de 20 dos 100 mandados de prisão e na prisão em flagrante de outras 93 pessoas. O foco da ação era o Comando Vermelho, facção que domina a região.
Moradores relatam viver em meio a uma guerra entre o crime organizado e as forças policiais, sentindo-se encurralados e sem perspectivas de melhora. Uma moradora, que preferiu não se identificar, descreveu as dificuldades enfrentadas no dia a dia, como a restrição de locomoção e a cobrança de pedágio por criminosos. “É tranquilidade que eu cobro. A minha cobrança é essa. Porque a gente não tem mais paz, não tem sossego”, desabafou.
A operação policial tem sido alvo de críticas por organizações nacionais e internacionais, incluindo o Conselho de Direitos Humanos da ONU, que pedem investigações independentes sobre possíveis abusos de poder. Familiares de vítimas alegam ter encontrado sinais de tortura nos corpos e afirmam que seus parentes tentaram se render. Em contrapartida, o governo do estado alega que aqueles que se entregaram foram presos, e que os mortos entraram em confronto com os agentes.
Para alguns moradores, a operação transmite uma falsa sensação de segurança. “O Rio de Janeiro todo está meio largado em questão de segurança. Isso [a operação], de uma certa forma, acaba trazendo uma sensação de que estão fazendo algo, né?”, ponderou um residente.
Uma moradora do Complexo da Penha, que presenciou a operação, descreveu o dia como um “horror” que impactou a vida de muitos, especialmente crianças. Ao ser questionada sobre se acredita em mudanças após a ação policial, sua resposta é categórica: “Nada”.
Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br



