Jair Bolsonaro completou cem dias em regime de prisão domiciliar nesta terça-feira, mantendo-se recluso em sua residência no Jardim Botânico, em Brasília. O ex-presidente, monitorado por tornozeleira eletrônica, permanece impedido de utilizar redes sociais e de receber visitas sem autorização judicial. Este período foi caracterizado por uma rotina limitada, problemas de saúde, tentativas de manter contato com aliados e a consolidação de uma narrativa de “perseguição” que fortaleceu sua base de apoio político.
A determinação da prisão domiciliar foi emitida em 4 de agosto por um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), após o descumprimento de medidas cautelares que o proibiam de manifestações políticas. Desde então, Bolsonaro tem permissão para sair de casa apenas em emergências médicas ou mediante autorização expressa do ministro.
Nos primeiros dias após a decisão, o ministro do STF autorizou visitas de familiares próximos sem a necessidade de aprovação judicial prévia. Em agosto, ele recebeu a visita do governador de São Paulo e do então presidente da Câmara dos Deputados, ambos aliados históricos. O ministro também permitiu o acesso de outras figuras políticas, como o presidente do PL e um senador pelo Espírito Santo.
Simultaneamente, a Polícia Penal do Distrito Federal intensificou o monitoramento do ex-presidente, incluindo vigilância e inspeções nos veículos que entram e saem da residência. A medida foi tomada após a divulgação de novas evidências pela Polícia Federal, resultando no indiciamento de Bolsonaro e de seu filho por coerção de autoridades envolvidas na investigação sobre a suposta tentativa de golpe.
Em outubro, a saúde de Bolsonaro voltou a ser motivo de preocupação. Seu médico relatou crises recorrentes de soluços e vômitos, exacerbadas por conversas prolongadas ou momentos de exaltação. Segundo aliados, o ex-presidente chegou a passar noites debilitado, alternando momentos de silêncio com breves discussões sobre temas políticos.
Apesar do quadro de saúde, Bolsonaro continuou a receber visitas frequentes de aliados – entre eles, o governador de São Paulo e parlamentares de Santa Catarina – e manteve, com permissão judicial, encontros de oração semanais em sua casa.
Em meados de outubro, a defesa solicitou ao STF autorização para a realização da festa de 15 anos da filha de Bolsonaro, em Brasília. O pedido, apresentado como um “almoço de cunho familiar”, visava reunir amigos e parlamentares próximos à família.
Além da tornozeleira eletrônica, Bolsonaro está proibido de manter contato com embaixadores, autoridades estrangeiras e outros investigados nos processos relacionados aos eventos de 8 de Janeiro e à suposta tentativa de golpe. Ele também não pode utilizar redes sociais, direta ou indiretamente, incluindo publicações por meio de familiares e aliados.
O descumprimento dessas regras foi o principal motivo da determinação da prisão domiciliar. Em julho, o ministro do STF considerou que um vídeo divulgado na conta de um senador, com mensagem do pai a apoiadores, violava a ordem judicial. O episódio resultou na determinação de reclusão domiciliar e na reação imediata de aliados no Congresso.
Ao longo dos meses, a narrativa de que Bolsonaro é vítima de perseguição política se consolidou entre seus apoiadores. No dia em que completou 100 dias de prisão, parlamentares e ex-ministros publicaram mensagens nas redes sociais em defesa do ex-presidente.
A defesa de Bolsonaro sustenta que o ex-presidente tem colaborado com a Justiça e solicita a revisão da prisão domiciliar, argumentando que as restrições são desproporcionais. O ministro do STF ainda não se pronunciou sobre os novos pedidos.
Fonte: www.infomoney.com.br



