Um projeto esportivo de grande porte na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), financiado com R$ 14 milhões do Ministério do Esporte, desencadeou uma crise interna que culminou na renúncia coletiva da diretoria da Fundação de Apoio da Rural (Fapur). O programa, denominado Esporte Para a Vida Toda (Previt), está sendo liderado pelo professor Anderson Silveira, genro do pastor Silas Malafaia, e é apontado como o pivô das tensões.
O Previt visa estabelecer 75 núcleos de prática esportiva em mais de 20 municípios do estado. Um aspecto que chama a atenção é que pelo menos 14 desses núcleos operam dentro de igrejas, predominantemente evangélicas, com envolvimento direto de líderes religiosos.
A estrutura de financiamento do projeto, realizada através de um Termo de Execução Descentralizada (TED) entre o Ministério do Esporte e a UFRRJ, dificulta o rastreamento das influências políticas por trás da alocação dos recursos. No entanto, sabe-se que os deputados federais Laura Carneiro e Roberto Monteiro indicaram a instalação de núcleos em suas bases eleitorais.
Questionado sobre o assunto, Anderson Silveira reconhece que parlamentares sugerem locais para a implementação dos núcleos, mas nega qualquer influência de seu sogro, Silas Malafaia. Segundo ele, os parlamentares apenas “solicitam atenção para determinadas regiões”, sem exercer poder de determinação.
Internamente, a UFRRJ manifestou preocupação com a distribuição das bolsas oferecidas pelo projeto. Do total de R$ 11,7 milhões destinados a bolsas, R$ 7 milhões foram direcionados a pessoas que não fazem parte da comunidade universitária, um índice considerado atípico e superior a 80% do montante total.
O projeto, que teve início em maio de 2024, é administrado pela Fapur. Em agosto, a diretoria da fundação renunciou em bloco, alegando ter cumprido seu papel institucional, sem explicitar os motivos da decisão. No entanto, fontes ligadas à UFRRJ atribuem a saída às “anomalias” e à magnitude financeira do Previt.
Silveira justifica os atrasos na execução do projeto, mencionando a “incapacidade da Fapur” em gerenciar os recursos e adquirir os materiais necessários. Ele também afirma que o Ministério do Esporte teria orientado a UFRRJ a aumentar o número de bolsas para evitar a devolução de verbas.
A lista de beneficiários do projeto inclui nomes ligados a figuras políticas. Jorge Luiz Almeida Dalta, associado a Laura Carneiro, assumiu a coordenação administrativa com um salário de R$ 6 mil. Ele também faz parte da diretoria do Instituto Nelson Carneiro, uma ONG ligada à família da parlamentar. Rosilene Gomes da Silva, supervisora dos núcleos de Quatis e Resende, agradeceu publicamente a Laura Carneiro nas redes sociais pelas aulas de vôlei e street dance oferecidas pelo projeto. Laura Carneiro confirmou ter solicitado recursos ao Ministério do Esporte, mas ressaltou que a “execução administrativa e operacional foi de responsabilidade da UFRRJ”.
No grupo ligado ao deputado Roberto Monteiro, o pastor Cleverson Pinheiro, contratado pelo Previt em São Gonçalo, divulgou um vídeo agradecendo ao parlamentar por “trazer o projeto social” à comunidade.
Em comunicado, a UFRRJ declarou que a seleção dos profissionais envolvidos no projeto seguiu critérios técnicos, priorizando a experiência em projetos esportivos comunitários. A universidade negou a existência de vínculos pessoais e afirmou que os nomes foram indicados pela coordenação “com base em formação e experiência na área do programa”.
Fonte: diariodorio.com



