O grande reduto boêmio do Rio viveu um sábado atípico. O som alto, as filas nas calçadas e os copos coloridos da Lapa deram lugar a um clima de desconfiança. As barracas conhecidas pelas caipirinhas generosas e preços camaradas ficaram praticamente às moscas. O medo da intoxicação por metanol — que vem assustando o país desde os casos em São Paulo — chegou de vez à noite carioca.
Na Joaquim Silva, no pé dos Arcos, a famosa “caipirinha da Fátima”, tradicional ponto de encontro de quem começa (ou termina) a noite ali, ficou completamente vazia. Frequentadores contaram que há muito tempo não viam a rua tão deserta. “Última vez que vi vazia assim foi na pandemia”, disse um internauta na rede social Threads.
Impacto na Zona Sul
Mesmo nos bares da Zona Sul, onde o respaldo pela segurança alimentícia costuma ser maior, o fim de semana foi de copos sem álcool, ou trocados pela boa e velha cerveja. A Secretaria de Estado de Saúde do Rio já anunciou dois casos suspeitos de intoxicação por metanol — um em Niterói e outro em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos. Nenhum ainda confirmado, mas o alerta está aceso. O órgão emitiu comunicado aos 92 municípios do estado orientando sobre a identificação de sintomas e monitoramento de possíveis ocorrências.
A crise começou em São Paulo, onde dezenas de casos foram notificados após consumo de bebidas adulteradas. Desde então, os efeitos da insegurança se espalharam para outras regiões. No Rio, o impacto mais visível tem sido na Lapa, onde a fama de bebidas de procedência duvidosa sempre andou de mãos dadas com a boemia.
Fiscalizações intensificadas
Para tentar conter o avanço das adulterações, o estado e a prefeitura intensificaram as fiscalizações. No fim de semana, uma operação integrada resultou na prisão de uma pessoa e condução de outras oito por venda de bebidas fora da validade. Centenas de garrafas suspeitas de falsificação foram apreendidas na capital e na Baixada Fluminense. Na orla, mais de 400 garrafas de destilados foram recolhidas de ambulantes ilegais que atuavam no calçadão.
O metanol, substância altamente tóxica, costuma ser usado ilegalmente como substituto do etanol em bebidas falsificadas. Pequenas doses já são suficientes para causar náusea, dor de cabeça, visão turva e, em casos mais graves, cegueira, coma ou morte. O corpo transforma o produto em formaldeído e ácido fórmico, compostos letais.



